Debate sobre a idade Histórica: Dependência de Traduções (5 de 5)


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Leia também: Parte 1 - Parte 2 - Parte 3 - Parte 4

Observação: Trechos entre "{ }" são comentários, notas, acréscimos meus.

por John Millam
17 de julho de 2009

A maioria dos cristãos prefere uma tradução da Bíblia em detrimento de outras. Alguns preferem o som formal da versão King James (falantes do inglês)/{Almeida Revista e Corrigida, para os falantes do português}, enquanto outros preferem a linguagem casual da tradução A Mensagem. De qualquer forma, cada tradução influencia a nossa compreensão da Bíblia.

Os quatro artigos anteriores desta série expuseram o caso de que grande parte da controvérsia e confusão sobre Gênesis 1-11 decorre do fato de que os teólogos – desde os primeiros dias da igreja – confiaram nas traduções do Antigo Testamento em vez do hebraico original. Esta dependência equivocada impacta as interpretações de pelo menos três maneiras distintas: diferenças linguísticas (parte 2), fatores culturais (parte 3) e problemas em traduções específicas (parte 4). Para muitas pessoas, isso levanta uma questão incômoda: “Então, isso significa que não posso confiar na minha Bíblia?”

A Clareza das Escrituras

A doutrina da clareza das Escrituras (também conhecida como perspicuidade das Escrituras) está no centro desta questão. A Confissão de Fé de Westminster (1647) define-a da seguinte forma:

Na Escritura não são todas as coisas igualmente claras em si, nem do mesmo modo evidentes a todos; contudo, as coisas que precisam ser obedecidas, cridas e observadas para a salvação, em um ou outro passo da Escritura são tão claramente expostas e explicadas, que não só os doutos, mas ainda os indoutos, no devido uso dos meios ordinários, podem alcançar uma suficiente compreensão delas. (1.7) [1]

Essencialmente, isto significa que os pontos-chave das Escrituras devem ser compreensíveis até mesmo por pessoas comuns e não limitados apenas a especialistas religiosos. Essa crença foi central para a Reforma Protestante, que enfatizou que todos os crentes deveriam ler a Bíblia por si próprios. É claro que a maioria das pessoas não é fluente em hebraico e grego e deve ler a Bíblia em um idioma que possa entender. Então, o que isso significa para a interpretação de Gênesis?

Ao olharmos para a definição acima, vemos que nem tudo nas Escrituras é facilmente compreendido. Questões secundárias, como a idade da Terra, não precisam ser facilmente acessíveis aos leigos. O filósofo Kenneth Samples escreve:

Sua perspicuidade [ou clareza] [das Escrituras] não significa que todas as passagens sejam igualmente claras, nem que o estudo acadêmico não seja necessário, mas essa qualidade significa que a mensagem essencial da salvação é claramente revelada em suas páginas. [2]

Em outras palavras, a clareza das Escrituras não nos dispensa de fazer um estudo cuidadoso do seu significado. Certamente alguns detalhes (como a forma de alinhar os eventos bíblicos com a história externa) exigem a capacidade de estudiosos treinados para serem totalmente resolvidos.

Pontos Primários versus Detalhes Secundários

Ao reconhecer que talvez não compreendamos prontamente tudo nas Escrituras, é bom lembrar um importante princípio de interpretação, destacado por Samples:

E porque nem todas as Escrituras são igualmente claras, hermeneuticamente falando, as partes menos claras devem ser interpretadas à luz das partes mais claras (As Escrituras interpretam as Escrituras). [3]

A interpretação deve começar identificando as afirmações mais claras antes de passar para as obscuras. Um método inclui focar no ponto (ou pontos) primário(s) de uma passagem antes de abordar os detalhes secundários. O ponto principal é o “quadro geral”. Representa a mensagem mais importante do autor. Como tal, está presente em cada parte da passagem e geralmente é expresso de diversas maneiras. Portanto, deve ser compreensível, mesmo que nos baseemos em traduções ou mesmo em paráfrases. Compreender a doutrina chave não requer conhecimento das línguas originais da Bíblia.

Depois de compreendermos o ponto principal da passagem, podemos passar para os detalhes secundários. Os autores usam menos informações para comunicar detalhes secundários, por isso exigem atenção extra dos leitores. Consultar múltiplas traduções e examinar outras passagens relevantes pode lançar luz adicional sobre o assunto. Em alguns casos, pode ser útil estudar comentários, dicionários hebraico/grego e referências históricas. Mais importante ainda, devemos evitar nos tornar dogmáticos ao lidar com interpretações de detalhes secundários, incluindo informações que afetam o debate sobre a idade da Terra.

Temos a tendência de ler Gênesis à luz das perguntas que queremos ver respondidas. Por exemplo, se abordarmos Gênesis 1 com o objetivo de resolver a natureza dos dias da criação, gravitaremos naturalmente em torno daqueles poucos detalhes secundários que poderiam abordar o assunto. Isso coloca o foco principalmente em três palavras – “noite”, “manhã” e “dia”. O perigo é que os substantivos hebraicos são geralmente muito mais amplos e menos específicos do que os seus homólogos ingleses/portugueses (parte 2). Desta forma, as nossas perguntas orientam a interpretação do texto (focando a nossa atenção em certos detalhes) em vez de deixar o texto orientar a nossa interpretação. Em vez disso, deveríamos nos concentrar primeiro no ponto principal de Gênesis 1, que é que Deus é o Criador; o segundo ponto é o princípio do sábado. [4] Moisés destaca esses pontos no início e na conclusão do capítulo, respectivamente.

Essenciais versus Não Essenciais

Por último e mais importante, os leitores da Bíblia devem lembrar-se da distinção entre questões de ortodoxia e preocupações discutíveis. As questões da ortodoxia abrangem os assuntos que formam a base do Cristianismo e que estão claramente definidos nas Escrituras (por exemplo, a Trindade, a divindade de Jesus Cristo etc.). Tais tópicos são normalmente incluídos nos credos da igreja, confissões de fé e declarações doutrinárias similares que são aceitas por grande parte da igreja (embora preocupações discutíveis, às vezes, também possam ser encontradas em tais documentos).

A igreja deve se unir no que é essencial, mas em questões onde a Bíblia não fala de forma decisiva, devemos mostrar caridade e compreensão para com interpretações variadas (1 Tessalonicenses 5:21; Tito 3:9-10). No que diz respeito ao debate sobre a idade histórica, apenas a doutrina da criação ex nihilo tem sido tradicionalmente considerada uma questão de ortodoxia. Em contraste, a natureza e a duração dos dias da criação, a idade da Terra e tópicos semelhantes foram tratados como preocupações discutíveis e não foram incluídos nas principais declarações doutrinárias. Embora tenham provocado discussões ao longo dos últimos dois milênios, só nas últimas décadas é que produziram uma discussão rancorosa.

A única forma de progredir na disputa moderna sobre a idade da Terra é tratá-la como um debate saudável. Todas as partes precisam permanecer abertas ao diálogo entre si e aprender com outras perspectivas.

Meu trabalho completo sobre este tópico ainda não foi publicado. Perguntas sobre isso devem ser direcionadas para KansasCity@Reasons.org

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Dr. John Millam

Dr. Millam recebeu seu doutorado em química teórica pela Rice University em 1997 e atualmente atua como programador da Semichem em Kansas City.

Notas de Fim

  • As Notas de Fim estão ausentes no texto original, em inglês.

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Etiquetas:
língua hebraica - traduções bíblicas / das Escrituras e o debate, discussão sobre a idade do universo e da Terra - criacionismo (progressivo) da Terra velha


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