Vírus e a providência de Deus
Coronavírus (imagem de Salvador Daqui em NighCafé Studio) |
Observação: Há links, no texto original, que já não funcionam mais. Mesmo assim, foram mantidos na tradução.
por Fazale Rana
11 de junho de 2009
Nova Pesquisa Sugere uma Razão Pela Qual Deus Criou os Vírus
Como mencionei no artigo passado, as sessões de perguntas e respostas dos nossos eventos de divulgação costumam ser bem emocionantes. Durante esta parte do programa, não é incomum que céticos desafiem nosso caso científico para a fé cristã.
Uma pergunta frequente é mais ou menos assim: "Por que Deus criaria vírus, já que esses 'defeitos' horríveis são responsáveis por tantas doenças e enfermidades?" Muitas pessoas veem os vírus como um componente "maligno" da natureza. Se a vida deriva do trabalho de um Criador amoroso, então não esperaríamos observar dor e sofrimento na natureza. Se, no entanto, o processo cego e sem direção da evolução gerou a vida, então características cruéis e perturbadoras no reino natural poderiam ser facilmente explicadas.
Os chamados designs “ruins” podem não ser um problema tão grande para o modelo de criação quanto parecem à primeira vista. Designs ruins frequentemente se tornam sistemas elegantes, e esse é o caso dos vírus. Embora os vírus causem doenças, eles, na verdade, constituem um componente vital da natureza. Por exemplo, um trabalho recente indica que os vírus desempenham um papel fundamental no ciclo de nutrientes nos oceanos da Terra.
Nova pesquisa que descreve o uso de vírus para combater bactérias resistentes a medicamentos também sugere outra razão pela qual Deus pode ter criado vírus. Talvez Ele os tenha criado para servir às necessidades humanas.
A ideia de que Deus fez aspectos da natureza para serem úteis à humanidade é chamada de providência divina. Na teologia cristã, essa ideia se refere ao papel contínuo de Deus em: (1) preservar Sua criação; (2) garantir que tudo aconteça; e (3) guiar o universo. O conceito de providência divina também postula que quando Deus criou o mundo, Ele construiu na criação tudo o que os humanos (e outros organismos vivos) precisariam. Consequentemente, cada coisa boa que as pessoas possuem foi fornecida e preservada por Deus, direta ou indiretamente.
Com base nisso, pode-se argumentar que, como parte de Sua providência, Deus criou vírus para uso da humanidade. Isso pode parecer contraintuitivo, mas os vírus estão se mostrando bastante práticos para aplicações biomédicas. Experimentos recentes de prova de princípio realizados por cientistas da Universidade de Harvard e do Centro Médico Howard Hughes ilustram a utilidade dessas entidades microscópicas. (Para ouvir uma entrevista com um dos pesquisadores, vá aqui.)
Esses pesquisadores estão tentando desenvolver uma nova abordagem para resolver o obstáculo da resistência a medicamentos em bactérias. Em vez de procurar novos agentes antimicrobianos, os cientistas decidiram usar vírus que infectam bactérias. Conhecidos como bacteriófagos, alguns desses vírus podem matar células bacterianas infectando-as e, em seguida, fazendo com que elas se quebrem. A ideia é encontrar vírus que infectem e matem micróbios resistentes a medicamentos. Infelizmente, células-alvo também podem desenvolver resistência a fagos naturalmente letais.
Devido a esse fator de confusão, os pesquisadores decidiram usar fagos não letais para micróbios porque as células-alvo não têm tanta probabilidade de desenvolver resistência a eles. Para tornar os fagos letais, a equipe reprojetou os vírus para produzir proteínas que têm como alvo redes metabólicas não essenciais. Novamente, destacar redes metabólicas não essenciais torna menos provável que as bactérias desenvolvam resistência ao fago.
Como prova de princípio, os pesquisadores reprojetaram um fago que infecta E. coli. Eles inseriram um gene no fago, fazendo com que ele produzisse uma proteína que inibe a chamada resposta SOS da E. coli. Essa resposta metabólica entra em ação quando o DNA da bactéria sofre danos e consiste, em grande parte, em um conjunto de processos que reparam o DNA quebrado.
A E. coli infectada também foi tratada com uma classe de antibióticos chamada quinolonas. Esses antibióticos produzem compostos que danificam o DNA e normalmente provocariam a resposta SOS. Trabalhando juntos, as quinolonas e o fago reprojetado bloquearam o reparo do DNA na E. coli. Usando essa estratégia, os cientistas descobriram que era preciso menos antibiótico para matar a E. coli em cultura com o fago presente do que sem o fago. Além disso, essa abordagem bloqueou a formação de biofilme na E. coli, que está associada a muitas doenças.
Além disso, os pesquisadores também mostraram que seu método foi eficaz em matar E. coli resistente a quinolonas e, mais importante, que também frustrou o surgimento de células resistentes a antibióticos. Duas coisas são responsáveis pela incapacidade da célula de desenvolver resistência: (1) o esgotamento de células persistentes e (2) a inibição da resposta SOS. Persistentes, geralmente partes resilientes de uma infecção microbiana, podem desenvolver resistência a antibióticos. A resposta SOS, na verdade, promove o início da resistência a antibióticos porque o reparo do DNA pelo sistema SOS é propenso a erros, introduzindo mutações no DNA que podem levar à resistência a antibióticos.
Ainda mais emocionante, essa técnica provou ser amplamente eficaz. Seus desenvolvedores geraram os mesmos resultados usando o fago reprojetado com outras classes de antibióticos. Além disso, eles produziram o mesmo resultado usando fagos que foram reprojetados para inibir outros sistemas metabólicos também.
Mas a utilidade dos vírus não para por aí. Alguns pesquisadores propuseram o uso de retrovírus para terapia genética, na qual um gene mutado é substituído por um saudável. Outros cientistas usaram retrovírus para transformar com sucesso células adultas da pele em células-tronco pluripotentes induzidas) que podem desempenhar um papel em terapias de substituição de células e tecidos. (Para um artigo sobre células-tronco pluripotentes induzidas e seu potencial uso biomédico, vá aqui.)
É incrível pensar que cientistas descobriram como usar vírus para desenvolver tecnologias benéficas. Ironicamente, as mesmas características que tornam os vírus prejudiciais à vida também se tornam as propriedades ideais para certas aplicações biomédicas. E, nesse sentido, os vírus podem ser pensados como parte da providência de Deus.
Isso significa que Deus criou vírus patogênicos? Eu sugiro que a resposta é sim. Os patógenos controlam as populações de plantas e animais e, consequentemente, desempenham um papel ecológico importante. E quanto aos patógenos virais que infectam humanos? Neste caso, eu argumento que não. Em vez disso, proponho que os vírus humanos evoluíram de vírus animais, saltando hospedeiros. Exemplos recentes desse fenômeno incluem o surgimento dos vírus HIV e SARS.
Este trabalho de ponta demonstra que se alguém vê ou não uma característica da natureza como “ruim” ou “boa” muitas vezes depende de quão abrangentemente ele ou ela vê esse aspecto particular da natureza. À medida que os pesquisadores continuam a desenvolver novas maneiras de usar vírus, prevejo um dia em que os veremos como uma parte indispensável da nossa existência, algo pelo qual agradecemos a Deus.
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Traduzido de Viruses and God’s Providence (RTB)
Etiquetas:
dúvida cristã - patógenos - Para que servem os vírus?
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