Existe uma base biológica para a crença? Uma continuação
![]() |
"Genética e crenças religiosas" (Imagem gerada por IA em Google Whisk) |
por Fazale Rana
29 de abril de 2010
Era inevitável. Eu sabia que a polêmica surgiria quando respondi à seguinte pergunta:
29 de abril de 2010
Era inevitável. Eu sabia que a polêmica surgiria quando respondi à seguinte pergunta:
É possível que crenças sejam transmitidas aos descendentes biologicamente, ou seja, por meio do DNA? Ou, [em outras palavras], quando aprendemos algo e o mantemos como uma crença, essa crença se torna de alguma forma mapeada em nossa bioestrutura de tal forma que é transmitida aos nossos descendentes?
Basicamente, argumentei que os avanços científicos recentes sugerem que pode muito bem haver uma base genética para as crenças espirituais, e não é irracional pensar que esses tipos de crenças podem ter impactar a modificação epigenética do DNA e, consequentemente, a expressão gênica. Curiosamente, as alterações epigenéticas no DNA são hereditárias. E isso abre a possibilidade de que nossas crenças possam ser transmitidas aos nossos filhos por meio de fatores culturais e transmissão genética.
Também argumentei que, se houver uma base genética para a crença, isso poderia explicar passagens das Escrituras como Efésios 1:3–6 e doutrinas sobre eleição*.
* N. do R. T.: Por ser de outra linha/vertente teológica, o autor deste blog não concorda com a doutrina da eleição na forma como ela é sustentada dentro da vertente calvinista.
Não é de surpreender que várias pessoas discordassem de minha opinião sobre esse assunto. Aqui estão algumas das objeções (sem nenhuma ordem específica):
Objeção 1
"Se há alguma verdade nas crenças transmitidas biologicamente, então eu sou um mutante extremo. Ninguém na minha família adorava a Deus e havia até satanistas no meio. Então... eu meio que duvido da base biológica para a crença. Entretanto, acredito que Deus nos programou de uma forma que nos torna pessoas adoradoras. A questão é: O QUE estamos adorando?"
Objeção 2
"Kenneth Samples viu isso antes de postar?
Uma "crença" é o que os filósofos chamam de "atitude proposicional" (onde "proposições" são "portadoras da verdade"; são verdadeiras ou falsas). Pelo que posso perceber, nenhuma das evidências citadas parece dar qualquer credibilidade à ideia de que crenças são hereditárias. Os sentimentos espirituais de alguém (ou um grau maior disso) serem hereditários dificilmente implica que as crenças o sejam! Da mesma forma, que "a quantidade de lambidas/limpezas de filhotes e amamentação com o dorso arqueado" ou outros comportamentos animais possam ter uma base genética dificilmente implica que as crenças o sejam! Isso é realmente absurdo, [em minha humilde opinião]. Além disso, pelo que entendi, a doutrina da eleição (pelo menos a da vertente calvinista) decorre da regeneração do coração por Deus em um determinado momento. Portanto, por essa razão, entre outras que eu poderia listar, não acho que queiramos dizer que a eleição é empregada por meio de circunstâncias biológicas com as quais nascemos."
Objeção 3
"A grande questão biológica para mim é: quão difícil é anular predisposições genéticas? Drogas e o ambiente podem ser tão fortes que a genética envolvida pode ser mínima, ou então, biologicamente, nos tornamos meros robôs. Acho que um artigo complementar para você e/ou o Sr. Samples seria discutir o aspecto espiritual da mudança de crenças."
Objeção 4
Objeção 1
"Se há alguma verdade nas crenças transmitidas biologicamente, então eu sou um mutante extremo. Ninguém na minha família adorava a Deus e havia até satanistas no meio. Então... eu meio que duvido da base biológica para a crença. Entretanto, acredito que Deus nos programou de uma forma que nos torna pessoas adoradoras. A questão é: O QUE estamos adorando?"
Objeção 2
"Kenneth Samples viu isso antes de postar?
Uma "crença" é o que os filósofos chamam de "atitude proposicional" (onde "proposições" são "portadoras da verdade"; são verdadeiras ou falsas). Pelo que posso perceber, nenhuma das evidências citadas parece dar qualquer credibilidade à ideia de que crenças são hereditárias. Os sentimentos espirituais de alguém (ou um grau maior disso) serem hereditários dificilmente implica que as crenças o sejam! Da mesma forma, que "a quantidade de lambidas/limpezas de filhotes e amamentação com o dorso arqueado" ou outros comportamentos animais possam ter uma base genética dificilmente implica que as crenças o sejam! Isso é realmente absurdo, [em minha humilde opinião]. Além disso, pelo que entendi, a doutrina da eleição (pelo menos a da vertente calvinista) decorre da regeneração do coração por Deus em um determinado momento. Portanto, por essa razão, entre outras que eu poderia listar, não acho que queiramos dizer que a eleição é empregada por meio de circunstâncias biológicas com as quais nascemos."
Objeção 3
"A grande questão biológica para mim é: quão difícil é anular predisposições genéticas? Drogas e o ambiente podem ser tão fortes que a genética envolvida pode ser mínima, ou então, biologicamente, nos tornamos meros robôs. Acho que um artigo complementar para você e/ou o Sr. Samples seria discutir o aspecto espiritual da mudança de crenças."
Objeção 4
“A única maneira de provar que se trata de uma pré-seleção de Deus em nome da eleição é coletar uma amostra aleatória da população de crianças e verificar se esse DNA está ativo ou não, e então esperar aproximadamente 15 anos para ver quem será salvo e fazer um novo teste. Além disso, querer conhecer a Deus e conhecê-Lo são duas coisas completamente diferentes. Não estou convencido de que o efeito do gene seja necessariamente um precursor definitivo da salvação. Vemos pessoas todos os dias que se dizem cristãs, mas que obviamente não estão caminhando com Ele.
Se olhássemos para os meus ancestrais e víssemos se havia alguém que andou com Deus, duvido que encontraríamos muitos. Pelo menos uma coisa que Deus me deixou claro em algum momento foi que Ele estava começando uma nova história comigo e com meu marido. Tivemos que lutar e nos esforçar para ir além das nossas origens.”
Objeção 5
“Obviamente, [esta é] uma questão complexa e facilmente confusa. Devemos lembrar que Romanos 1 mostra claramente que Deus considerará os incrédulos ‘inescusáveis’, visto que Sua existência e caráter são revelados por meio daquilo que Ele criou. Engraçado... o Criador, ao falar aqui, não mencionou genética nem sequer remotamente aludiu a outros fatores biológicos para ‘crenças’ que supostamente estão fora do nosso controle.
Além disso, é necessário examinar a própria linguagem de Jesus quando falou sobre ter fé salvadora ou ‘crença’ nEle (veja João 3 e João 5, por exemplo). Agir com verdadeira fé em Cristo, que resulta no novo nascimento, segundo Jesus, resulta da obra milagrosa do Espírito Santo, aliada a uma decisão humana voluntária. Portanto, embora se possa argumentar cientificamente sobre certa predisposição genética para crer em Deus, nunca se pode defender biblicamente a ideia de que a crença (a favor ou contra) é geneticamente predeterminada. É verdade que a fé salvadora se enquadra no escopo de milagre e livre escolha, independentemente de você ser um ‘calvinista’.
A propósito, se uma pessoa é ateia e seus genes dizem que ela tem predisposição para ser ateia, ela pode ser salva?
Outra maneira de fazer a mesma pergunta: as configurações da cadeia nucleopeptídica determinam como o Espírito Santo é capaz de agir? Hummm?”
Minha resposta
Só para esclarecer isso, discuti as ideias do artigo original com Kenneth Samples. No entanto, assumo toda a responsabilidade pelo seu conteúdo. Quaisquer erros são meus.
Também fiz todo o possível para ser cauteloso ao tirar conclusões definitivas sobre a base biológica da crença, como evidenciado pela linguagem que usei no artigo original (por exemplo, "ainda permanece a intrigante possibilidade"; "pode fornecer suporte"; "embora ainda não haja nenhuma indicação disso"). Concordo que a noção de uma base genética e epigenética para nossa espiritualidade e crenças não é uma conclusão precipitada. Mas a evidência inicial de que (1) pode haver "genes divinos"; (2) a descoberta de que o comportamento pode alterar a expressão gênica; e (3) o fato de que alterações na expressão gênica podem ser herdadas na forma de modificações epigenéticas no DNA torna difícil descartar a possibilidade de que nossa constituição genética desempenhe um papel em ditar nossa espiritualidade.
Ainda assim, simpatizo com essas objeções ponderadas. Parece-me que o que reside no cerne da maioria dessas preocupações é a noção de que, se existe uma base biológica para as nossas crenças (e, especificamente, para a nossa fé), ela fornece suporte para o fisicalismo. Esta ideia filosófica afirma que tudo o que existe consiste apenas em suas propriedades físicas. Com relação ao problema mente/corpo, o fisicalismo sustenta que não existe mente, apenas cérebro. O que atribuímos à mente, em última análise, pode ser explicado pela fisiologia cerebral e pela neuroquímica. Essa posição contrasta com a visão bíblica da mente (e do espírito) como não física. A visão bíblica é conhecida como dualismo.
Os estudos que descrevi no artigo anterior são um marco, prenunciando outros estudos que, sem dúvida, continuarão a demonstrar influências genéticas e epigenéticas na espiritualidade humana. E há outros estudos que sugerem uma contribuição genética para o comportamento criminoso e, consequentemente, para a moralidade. Portanto, gostemos ou não, como cristãos, precisamos ter uma resposta às crescentes evidências que indicam a existência de uma base biológica para a crença (e a moralidade). Não podemos simplesmente descartar esses tipos de resultados porque os percebemos como contrários à nossa visão de mundo ou contraditórios ao que acreditamos que a Bíblia ensina.
Mas, como indiquei da última vez, só porque a fé tem uma base biológica não significa que o fisicalismo triunfe sobre o dualismo. Uma base biológica para a crença é totalmente compatível com uma perspectiva bíblica. Essa compatibilidade decorre do fato de que os seres humanos são ambos seres biológicos e espirituais, como passagens bíblicas a exemplo de Gênesis 2:7 sugerem. Os componentes físico e espiritual dos humanos não são distintos um do outro. Ou seja, os seres humanos não são um "fantasma na máquina". Em vez disso, nossos componentes biológico e espiritual estão interligados; são unificados.
Consequentemente, é razoável supor que exista uma interação entre nossas naturezas espiritual e biológica. Se assim for, o Espírito Santo pode atuar por meio do espírito, da biologia ou de ambos, para nos atrair a Ele e nos transformar à Sua imagem. Uma tendência genética à crença em Deus e a modificação epigenética do DNA podem ser duas maneiras pelas quais Deus realiza essas coisas.
Ao considerar essas possibilidades, também é importante se precaver contra reducionismo genético, uma visão que sustenta que nossos genes determinam quem somos, exclusivamente. Quando se afirma que existe um "gene divino" (e que algumas pessoas o possuem e outras não), é compreensível que muitos interpretem essa afirmação como uma indicação de que a fé de um indivíduo deriva de alguma forma de determinismo biológico. Em outras palavras, se uma pessoa acredita ou rejeita Deus está completamente além de seu controle. Tudo é ditado pela constituição genética desse indivíduo.
Mas o reducionismo genético não é uma ideia biologicamente sólida, nem um pouco. Nossa constituição genética, de fato, influencia quem somos. Mas fatores não genéticos também influenciam. Na realidade, um organismo é a combinação de genes (natureza) + fatores ambientais (criação) + ruído de desenvolvimento. E, de uma perspectiva cristã, os seres humanos são a combinação de espírito (a imagem de Deus) + genes (natureza) + fatores ambientais (criação) + ruído de desenvolvimento. Portanto, mesmo que um indivíduo não possua o "gene de deus" e, em vez disso, exiba uma propensão à descrença, ele ou ela ainda pode acabar abraçando a fé cristã devido a outras influências (biológicas e espirituais). É concebível que essas influências possam impactar a modificação epigenética do DNA (e, portanto, a expressão genética) de uma forma que impacte suas crenças, valores e comportamento. E se essas mudanças forem hereditárias, haveria uma nova tendência em seus (futuros) filhos em direção à crença. Da mesma forma, alguém com o "gene de deus" pode acabar rejeitando Deus por causa de fatores não genéticos.
E quanto à objeção de que crenças são uma "atitude proposicional"? À primeira vista, concordo que a noção de atitudes proposicionais como hereditárias parece irracional e, como mencionei no artigo anterior, não há evidências de que crenças sejam hereditárias. Mas as mudanças reversíveis na modificação epigenética do DNA (e, portanto, nos padrões de expressão gênica) causadas pela lambida de filhotes, em ratos, [1] são provocativas. Essa descoberta abre a possibilidade de que as crenças possam impactar nossa constituição genética e ser transmitidas aos nossos descendentes. Será que algumas crenças são tão significativas, tão profundamente impactantes, que moldam a forma como vemos o mundo e nosso lugar nele? Não acho que essa possibilidade seja descabida.
Eu sabia que meu artigo original geraria alguma controvérsia. Sem dúvida, este artigo causará o mesmo. Fico feliz, porém, porque a controvérsia gera discussão, e os cristãos precisam refletir sobre essa questão. Com o tempo, haverá um número crescente de estudos identificando os componentes biológicos da espiritualidade, crença, moralidade etc. Espero que essas interações ajudem a preparar os cristãos para responder eficazmente a esses avanços à medida que ocorrem.
Notas de Fim
- Ian C. G. Weaver, “Epigenetic Programming by Maternal Behavior and Pharmacological Intervention”, Epigenetics 2 n.º 1 (janeiro-março 2007): 22–28; Moshe Szyf et al., “Maternal Programming of Steroid Receptor Expression and Phenotype through DNA Methylation in the Rat”, Frontiers in Neuroendocrinology 26 (outubro-dezembro 2005): 139–62.
________________________
Traduzido de Is There a Biological Basis for Belief? A Follow Up (RTB)
Etiquetas:
Deus está nos genes, na genética humana? - existe uma base genética para a crença religiosa/em Deus/no sobrenatural?
Comentários
Postar um comentário
Escreva aqui seu comentário sobre esta postagem. Caso queira fazer um comentário sobre o blog em geral ou quiser se comunicar pessoalmente comigo, use o formulário de contato que se encontra na coluna lateral do blog.