GNINOLC: Temos tudo ao contrário


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por Fazale Rana
1º de julho de 2005

Se eu me clonasse, eu seria o pai ou irmão do meu clone? Um clone teria sua própria identidade?

Perguntas como essas provocam imagens de um futuro bizarro e assustador que levam muitos bioeticistas e cientistas a pedir a proibição da clonagem reprodutiva humana. Como resultado, eles condenam os esforços de organizações renegadas como a Clonaid, fundada pelos raelianos, um culto a OVNIs. Eles também expressam preocupação com o trabalho de cientistas reprodutivos legítimos, como Panayiotis Zavos, que buscam ativamente a clonagem como uma forma de terapia reprodutiva.

Muitos na comunidade científica, no entanto, apoiam a clonagem terapêutica humana. Pesquisadores biomédicos justificam a clonagem terapêutica com base nos potenciais benefícios médicos que essa biotecnologia pode um dia produzir. Por exemplo, em 2002, o Conselho de Diretores da Associação Americana para o Avanço da Ciência (American Association for the Advancement of Science, AAAS) adotou uma resolução para proibir a clonagem reprodutiva humana, ao mesmo tempo em que apoiava a clonagem terapêutica humana “para concretizar os enormes benefícios potenciais à saúde que essa tecnologia oferece”. [1]

Tanto a clonagem terapêutica quanto a reprodutiva usam a mesma técnica, chamada transferência nuclear de células somáticas (somatic cell nuclear transfer, SCNT). Durante esse procedimento, os pesquisadores removem o núcleo (que abriga o material genético) de um óvulo humano e o substituem pelo núcleo de uma célula do corpo humano. Como a célula do corpo tem 46 cromossomos, o resultado é semelhante ao processo de fertilização, no qual o material genético de um espermatozoide humano (23 cromossomos) se une ao material genético do óvulo (23 cromossomos). Uma vez que a transferência nuclear é concluída, os pesquisadores estimulam artificialmente o óvulo a se dividir para formar um embrião em desenvolvimento. Se o embrião for implantado no útero de uma barriga de aluguel humana, o processo é denominado clonagem reprodutiva. Se um embrião for usado para coletar células-tronco embrionárias (um procedimento que destrói o embrião), o processo é chamado de clonagem terapêutica.

A maioria do público apoia a posição da AAAS. Entretanto, essa visão da clonagem humana deriva de um raciocínio moral distorcido e leva a uma postura retrógrada sobre a clonagem humana. Para aqueles que abraçam uma “cultura da vida”, a clonagem terapêutica deve ser condenada, enquanto a clonagem reprodutiva, pelo menos em princípio, pode ser tolerada.

O objetivo da clonagem reprodutiva é criar um embrião humano para ser implantado em um útero com a intenção total de que ele se torne um ser humano totalmente desenvolvido com todas as oportunidades de vida. Na verdade, a clonagem reprodutiva humana não é diferente da fertilização in vitro. [2] Por outro lado, o único propósito da clonagem terapêutica é criar um embrião humano apenas para desmontá-lo para suas “partes” (células-tronco embrionárias).

Em 3 de março de 2005, a Assembleia Geral da ONU adotou uma declaração que convoca todos os governos ao redor do mundo a proibir todas as formas de clonagem humana que sejam “incompatíveis com a dignidade humana e a proteção da vida humana”. [3] Esta é uma boa notícia. Espero que esta declaração da ONU ajude a pôr fim à clonagem terapêutica humana e à criação e destruição desenfreadas de vidas humanas.

Notas de Fim

  1. “AAAS Resolution: Statement on Human Cloning”, (14 de fevereiro de 2002) https://archives.aaas.org/docs/resolutions.php?doc_id=425, acessado em 3 de maio de 2005. {O link informado já não funciona mais}
  2. Do ponto de vista prático, a clonagem reprodutiva é problemática. O procedimento de clonagem é altamente ineficiente e os clones produzidos com a tecnologia atual são prejudiciais à saúde (com base em estudos com animais).
  3. “General Assembly Adopts United Nations Declaration on Human Cloning by Vote of 84-34-37”, Press Release GA/10333, https://www.un.org/News/Press/docs/2005/ga10333.doc.htm, acessado em 10 de maio de 2005. {O link informado no texto original mudou pra https://press.un.org/en/2005/ga10333.doc.htm.}


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Etiquetas:
genética - embriões humanos


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