A Navalha de Ockham apoia o Naturalismo?


William de Ockham e sua famosa navalha (Imagem gerada por IA em Google Whisk - https://labs.google/fx/pt/tools/whisk)
William de Ockham e sua famosa navalha :-)) (Imagem gerada por IA em Google Whisk)


por Kenneth Samples
1º de abril de 2004

William de Ockham (c. 1285-1349), monge franciscano e filósofo, [1] é lembrado por seu princípio da parcimônia ou simplicidade, popularmente chamado de “Navalha de Ockham”. Ele afirmou que “As entidades não devem ser multiplicadas sem necessidade” e “O que pode ser feito com menos [pressupostos] é feito em vão com mais”. Em outras palavras, quando confrontado com duas hipóteses explicativas aparentemente iguais, a explicação mais simples ou mais econômica deve receber o acatamento lógico.

Alguns ateus afirmam que a aplicação da Navalha de Ockham torna o ateísmo e sua visão de mundo naturalista uma alternativa mais razoável do que o teísmo cristão. Eles argumentam que o ateísmo é preferível ao teísmo porque o ateísmo postula pelo menos uma entidade a menos (nenhum Deus) no inventário da realidade última do que o teísmo. Os ateus geralmente acreditam que sua visão de mundo naturalista e materialista pode explicar a realidade, a verdade, o significado, o valor, a moralidade, a beleza e a razão em um único mundo, enquanto o teísmo cristão requer dois mundos (tanto o reino físico quanto o transcendente da realidade).

Contudo, a Navalha de Ockham, embora útil na avaliação de hipóteses explicativas concorrentes da realidade última, não pode, por si só, constituir o principal ou definitivo teste do que é razoável ou verdadeiro. [2] A explicação mais simples pode merecer deferência inicial em relação à explicação complexa, mas, por vezes, o que parece ser a teoria mais simples pode, na verdade, ser, de forma simplista, inadequada. Nesse caso, a visão mais complexa se torna logicamente necessária. Sugiro que a Navalha de Ockham aborda apenas metade da equação explicativa necessária. A perspectiva lógica mais completa surge no que denomino, por estipulação, de “teste da média”. Esse teste afirma que a visão de mundo equilibrada entre complexidade e simplicidade é um melhor indicador da verdade e da razão últimas. Consequentemente, uma visão de mundo aceitável (uma interpretação da realidade) não será nem demasiado simples (a falácia reducionista) nem desnecessariamente complexa (a Navalha de Ockham). O teste afirma que a visão de mundo mais simples, mais econômica e, ainda assim, plenamente ortodoxa é a melhor (explicativamente superior). O teste da média procura evitar explicações da realidade supérfluas e simplistas demais. [3]

Os cristãos identificam duas fragilidades no naturalismo quando se aplica o teste da média. Primeiro, embora o naturalismo possa ser, em certo sentido, mais simples do que seu rival, o teísmo (por negar a existência do mundo transcendente), o naturalismo é em si um sistema metafísico, e não se reduz meramente à ciência. No fim, não parece ser tão simples ou preciso assim. A ideia de que a realidade complexa (o mundo, a vida, a consciência etc.) possa ser reduzida ou explicada unicamente pelo mundo natural parece uma afirmação difícil e presunçosa. Permaneço cético quanto à possibilidade de o naturalismo ser, de fato, uma explicação mais simples ou econômica da realidade do que o teísmo cristão.

Em segundo lugar, o naturalismo sustenta que realidades significativas como a vida, a mente, a personalidade e a razão surgiram de um mecanismo natural acidental (por exemplo, a evolução filogenética). Mas qualquer mecanismo desse tipo careceria dessas realidades. O efeito parece ser profundamente maior que a causa. Como essa anomalia de causa e efeito, inconcebivelmente improvável, se concilia com o princípio científico fundamental da causalidade? Como podem empreendimentos tão racionais e objetivos como a lógica, a matemática e a ciência ser o resultado de um processo natural não guiado, acidental e puramente inconsciente?

O teste da média me parece um calibrador mais equilibrado e razoável das afirmações de verdade das cosmovisões, e o naturalismo não obtém uma pontuação mais alta nesse teste do que o teísmo cristão. Na verdade, o robusto poder explicativo e o alcance do teísmo cristão (incluindo a capacidade de ajudar os seres humanos a compreender a vida e seus desafios) podem ser uma de suas características mais relevantes. As realidades significativas da vida (o mundo, entidades abstratas, consciência, moralidade, lógica etc.) precisam de um fundamento metafísico adequado. O Deus da Bíblia não se apresenta como um "deus das lacunas", um substituto supersticioso para a ignorância, mas sim como uma hipótese explicativa simples, econômica e, ainda assim, completa para as diversas realidades significativas descobertas no mundo e na vida humana.

Notas de Fim

  1. Para uma discussão detalhada das visões filosóficas e teológicas de William de Ockham, veja Frederick Copleston, A History of Philosophy, vol. 3 (New York: Doubleday, 1993), 43-152; e Paul Edwards ed., The Encyclopedia of Philosophy, vols. 7 e 8 (New York: Macmillan, 1967), s.v. “William of Ockham.”
  2. Resumo nove testes de visão de mundo sugeridos em Hugh Ross, Kenneth Samples e Mark Clark, Lights in the Sky & Little Green Men (Colorado Springs: CO, Navpress, 2002), 156-58.
  3. Uma comparação ponderada e imparcial das visões de mundo do naturalismo e do teísmo é apresentada em William J. Wainwright, Philosophy of Religion (Belmont, CA: Wadsworth, 1988), 1


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Etiquetas:
Guilherme de Ockham - filosofia da ciência


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