O descrente é culpado?


Rejeitando a Bíblia e Deus (Imagem gerada por IA em Google Whisk - https://labs.google/fx/pt/tools/whisk)
Rejeitando a Bíblia e Deus (Imagem gerada por IA em Google Whisk)


por William Lane Craig
13 de dezembro de 2010

QUESTIONAMENTO:

Caro Dr. Craig,

Eu sou um cristão brasileiro. Seu trabalho pelo reino tem sido uma ajuda tremenda para mim em minha vida espiritual.

Acredito que Deus existe, mas estou preocupado com uma questão.

Os cristãos deveriam pensar que Deus punirá os ateus por escolherem não acreditar. Mas como pode um ateu sincero ser culpado por não acreditar? Não acho que acreditar seja uma escolha.

Suponha que seus amigos o incentivem a acreditar no Papai Noel. Você poderia se forçar a acreditar no Papai Noel? No máximo, você pode agir como um crente, mas nunca será um crente sincero. Portanto, você será um hipócrita!

Agora suponha que o Papai Noel “peça” que você sofra por ele. Se você não acredita no Papai Noel, terá motivação suficiente para suportar o sofrimento por ele? Você pode ser culpado por desistir do sofrimento pelo Papai Noel?

Jesus pede ao crente que faça mais do que sofrer por ele. Cristo pede ao crente que odeie a sua própria vida neste mundo (João 12:25). Agora, como pode um ateu ter motivação suficiente para obedecer a Cristo se ele ainda não acredita em Jesus?

Se um ateu sincero pensa que Deus é um conto de fadas, como pode ser culpado? Se a crença não é uma escolha, ninguém pode ser culpado por não acreditar. Parece absurdo punir um ateu por ser ateu, assim como é absurdo punir um cachorro por ser um cachorro.

Como devemos responder a esta objeção?

Obrigado!
Wagner, Brasil


RESPOSTA DE WILLIAM LANE CRAIG:

Acho que os ateus contemporâneos se ofendem muito com a afirmação bíblica de que Deus considera as pessoas moralmente culpadas por sua descrença. Eles querem manter sua descrença em Deus sem aceitar a responsabilidade por isso. Essa atitude os capacita a rejeitar Deus impunemente.

Agora, podemos concordar que uma pessoa não pode ser responsabilizada moralmente por não cumprir um dever do qual não está informada. Portanto, toda a questão é: as pessoas estão suficientemente informadas para serem responsabilizadas moralmente por não acreditarem em Deus? A resposta bíblica a essa pergunta é inequívoca. Primeiro, Deus forneceu uma revelação de Si mesmo na natureza que é suficientemente clara para que todas as pessoas cognitivamente normais saibam que Deus existe. Paulo escreve à igreja romana:

Porque do céu se manifesta a ira de Deus sobre toda impiedade e injustiça dos homens que detêm a verdade em injustiça; porquanto o que de Deus se pode conhecer neles se manifesta, porque Deus lho manifestou. Porque as suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o seu eterno poder como a sua divindade, se entendem e claramente se veem pelas coisas que estão criadas, para que eles fiquem inescusáveis; porquanto, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças; antes, em seus discursos se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu. (Romanos 1:18-21 ARC).

Na opinião de Paulo, as propriedades de Deus, o Seu eterno poder e divindade, são claramente reveladas na criação, de modo que as pessoas que não conseguem acreditar num Criador eterno e poderoso do mundo não têm desculpa. Na verdade, Paulo diz que eles realmente sabem que Deus existe, mas suprimem esta verdade por causa da sua injustiça. Como resultado, eles ficam tão confusos em seus pensamentos que podem realmente enganar-se pensando que são investigadores de mente aberta que buscam honestamente a verdade. Tenho certeza de que todos já observamos que a capacidade humana de racionalização e autoengano é muito grande, e na visão bíblica os ateus são vítimas dela.

Em segundo lugar, totalmente à parte da revelação de Deus na natureza está o testemunho interior que o Espírito Santo dá das grandes verdades do Evangelho, incluindo, devo dizer, o fato de que Deus existe. Qualquer pessoa que deixe de acreditar em Deus no final da sua vida o faz apenas por meio de uma resistência obstinada à obra do Espírito Santo em atrair essa pessoa ao conhecimento de Deus. Do ponto de vista bíblico, as pessoas não são como cordeiros inocentes e perdidos, vagando indefesos e sem guia. Pelo contrário, são rebeldes determinados cujas vontades estão contra Deus e que devem ser subjugadas pelo Espírito de Deus.

A diferença, então, entre Deus e Papai Noel é que (i) há boas evidências em apoio à existência de Deus que são manifestas a todos, e (ii) há um testemunho objetivo do Espírito de Deus que justifica a crença nas verdades cristãs. É claro que o incrédulo negará que exista tal evidência e tal testemunho do Espírito. Certo; nós, cristãos, discordamos deles sobre isso. Achamos que eles estão enganados. É por isso que os envolvemos num diálogo, para lhes mostrar que as evidências são suficientes e que as suas objeções são fracas.

Ao contrário do que você diz, Wagner, na visão bíblica, a descrença é uma escolha. É uma escolha resistir à força da evidência e à atração do Espírito Santo de Deus. O incrédulo é como alguém que morre de uma doença fatal que se recusa a acreditar nas evidências médicas relativas à eficácia de uma cura oferecida e que rejeita o testemunho do seu médico sobre ela e que, como resultado, sofre as consequências da sua própria teimosia. Ele não tem ninguém para culpar além de si mesmo.

Ateus e agnósticos não são como cães. São pessoas criadas à imagem de Deus, dotadas de liberdade de vontade e perseguidas por um amoroso Pai Celestial que anseia reconciliá-los consigo mesmo. A sua incredulidade é culpável porque é mantida apesar das evidências e em desafio ao Espírito Santo.



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Traduzido de #191 Is Unbelief Culpable? (Reasonable Faith)



Etiquetas:
dúvida cristã - ateísmo - rejeição a Deus


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