A Estrela de Natal – um sinal de design


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por Eric Hedin
20 de dezembro de 2023

Há alguns anos, enquanto eu morava no sul da Califórnia, uma igreja local me pediu para apresentar uma palestra sobre a Estrela do Natal como parte de seus eventos evangelísticos de Natal. Precisando mergulhar nas interpretações atuais e históricas deste fenômeno astronômico tão famoso, fiz algumas pesquisas na biblioteca da Universidade Biola, onde encontrei vários livros sobre o assunto. 

Um em particular foi publicado recentemente, chamou minha atenção e se destacou como o mais convincente. The Great Christ Comet: Revealing the True Star of Bethlehem (O Grande Cometa de Cristo: Revelando a Verdadeira Estrela de Belém), de Colin Nicholl, elogiou-se com sólidos estudos bíblicos e históricos combinados com revelações astronômicas aprofundadas. O professor Nicholl, com doutorado pela Universidade de Cambridge, é um teólogo que tem uma visão elevada das Escrituras. Mas o que também me impressionou foi o seu compromisso em colaborar com os astrônomos na sua avaliação e apresentação de explicações para a Estrela.

Se as luzes dos céus físicos foram criadas “para sinais e para estações”, e se um fenômeno astronômico apareceu na hora e no lugar precisos para convencer os astrólogos pagãos do nascimento do Messias judeu, então certamente isso conta como um dos exemplos mais notáveis de design inteligente. O que exatamente era a Estrela suscitou especulações durante séculos.

Por mais brilhante que fosse a Estrela, durante quase dois milênios a sua identidade esteve envolta numa escuridão misteriosa. (pág. 25)

Uma Abordagem Compartimentada

Nicholl sugere que parte da dificuldade em chegar a uma teoria satisfatória para a Estrela decorre de uma abordagem compartimentada, com astrônomos ou teólogos realizando a tarefa dentro das suas disciplinas separadas. Os astrônomos são, em grande, parte “não treinados em estudos bíblicos”, enquanto os estudiosos da Bíblia se encontram “em território estranho” quando consideram as possibilidades astronômicas. (pág. 69, pág. 26)

Uma possível interpretação do relato dos Magos (ou Reis Magos) e do seu guia luminoso que precisa ser abordada imediatamente é que a estrela não tinha nenhuma base na astronomia, que era, na pior das hipóteses, uma narrativa mítica, ou, na melhor das hipóteses, um fenômeno sobrenatural único. Nicholl rejeita essas hipóteses por duas razões. Uma é a natureza dos relatos evangélicos:

No entanto, o ceticismo é injustificado. Já vimos que os Evangelhos são antigas biografias greco-romanas que procuram contar a história de Jesus de forma historicamente fiel, com base em fontes consideradas confiáveis, e que a história dos Magos foi considerada por Mateus como verdadeira e tem fortes credenciais históricas. (pág. 87)

A segunda razão que Nicholl oferece para descartar a interpretação mítica/sobrenatural é que

a afirmação baseia-se na ignorância astronômica. Como este estudo irá demonstrar, cada elemento na descrição do comportamento da Estrela feita por Mateus é consistente com fatos astronômicos estabelecidos. (pág. 87)

Nicholl observa que a descrição da Estrela em Mateus 2:1-18 “quase certamente reflete a perspectiva observacional dos Magos”. Como tal, a direção interpretativa primária deve estar no caminho de encontrar uma explicação astronômica válida. A maior parte da pesquisa de Nicholl segue esse caminho e se concentra em reunir pistas bíblicas com possibilidades astronômicas.

Uma Conjunção Tripla?

A maioria dos leitores provavelmente já ouviu, como eu, uma ou mais hipóteses para uma explicação astronômica da Estrela do Natal.

A hipótese de que a Estrela de Belém era a conjunção tripla de Júpiter e Saturno em 7 a.C. é talvez a visão mais popular. (pág. 69)

Uma conjunção de planetas ocorre quando os planetas parecem próximos uns dos outros quando vistos da Terra. Isto normalmente ocorre para Júpiter e Saturno a cada 19,76 anos, mas uma "conjunção tripla" ocorre mais raramente (aproximadamente a cada 139 anos) quando estes planetas parecem aproximar-se um do outro três vezes dentro do período de cerca de uma órbita terrestre. Na conjunção tripla de Júpiter e Saturno, no ano 7 a.C., estes dois gigantes gasosos aproximaram-se três vezes com um grau de diferença um do outro, tendo como pano de fundo a constelação de Peixes. (pág. 70)

Em 21 de dezembro de 2020, a visão de Júpiter e Saturno a partir da Terra coalesceu no céu noturno a apenas um décimo de grau – tão perto que poderiam facilmente aparecer como uma única “estrela”. Esse certamente não foi o caso de uma conjunção como a de 7 a.C., quando a separação angular dos planetas era de um grau, ou cerca de duas vezes o diâmetro da lua cheia. Lembro-me de observar a progressão noturna de Júpiter aproximando-se de Saturno no final do outono de 2020. Quando eles ainda estavam separados por cerca de um grau, não havia nada de particularmente espetacular nisso. Entretanto, seria concebível sobrepor uma interpretação do evento com base nas antigas associações dos personagens Júpiter e Saturno. De acordo com um desses entendimentos, o sinal significaria: “O Rei está ultrapassando a Morte”.

Depois de avaliar cuidadosamente várias outras propostas para possíveis eventos astronômicos que deram origem à Estrela de Belém, Nicholl considera todas elas deficientes em pontos importantes. Uma dessas propostas é que a Estrela era um cometa, normalmente o cometa Halley, ou outro cometa visto em 5 a.C. e mencionado nos registros astronômicos chineses. (p. 127) Uma análise cuidadosa do momento do aparecimento desses cometas, e das suas localizações e durações de visibilidade no céu, mostra que identificar a Estrela com qualquer um desses fenômenos é insustentável.

Revelando a Conclusão Principal

E agora, a principal conclusão da pesquisa de Nicholl:

Apesar das fraquezas das hipóteses do Cometa Halley e do Cometa 5 a.C., a evidência de que os fenômenos celestes que os Magos testemunharam foram causados por um cometa é esmagadora…. Quando consideramos também que a Estrela esteve visível durante pelo menos 1-2 anos, as identificações possíveis são reduzidas a duas – uma supernova ou um cometa grande e produtivo de longo período… (pp. 132-133)

Mas as supernovas deixam um vestígio detectável, visível durante milhares de anos após a explosão inicial, e “nenhum vestígio de uma supernova de 2.000 anos atrás foi descoberto”. (pág. 78)

Um foco da avaliação de Nicholl de várias hipóteses astronômicas tem a ver com o quão bem elas complementam a famosa questão dos Magos quando chegaram a Jerusalém:

‭‭Onde está aquele que é nascido rei dos judeus? Porque vimos a sua estrela no Oriente e viemos a adorá-lo.
— MATEUS 2:2, ARC

Um dos fatos astronômicos básicos que ensinei a centenas de estudantes introdutórios de astronomia é que, devido à rotação da Terra no sentido anti-horário (vista de cima do polo norte da Terra), todos os objetos celestes parecem surgir no leste e se pôr no oeste. Apenas ver uma estrela nascer (no leste) não seria digno de nota. Nicholl propõe que os Magos se referissem, em vez disso, a um momento particular de ascensão, chamado de “ascensão heliacal” [1] da estrela – na época do ano em que ela pode ser vista pela primeira vez no horizonte leste, no início da madrugada, pouco antes da luz do nascer do sol fazer com que ela desapareça de vista.

Um Cometa de Longo Período 

As próximas ascenções heliacais de estrelas e planetas teriam sido previsíveis para os Magos. A ascensão heliacal de um cometa de longo período, por outro lado, teria parecido excepcional.

Na verdade, a ascensão heliacal de nenhuma outra entidade pode comparar-se em majestade à de um grande cometa afastando-se rapidamente do Sol imediatamente após o seu encontro mais próximo com ele... Isto torna um grande cometa, de longe, o candidato celestial mais natural para o papel da Estrela que surgiu no leste. (pág. 134)

Os cometas também se movem de maneira única por uma parte significativa do céu em um período de semanas, especialmente na época do periélio. [2]

Um cometa com elementos orbitais dentro de certas faixas poderia ter surgido heliacamente no céu oriental e, logo depois, mudado para o céu noturno ocidental, e então migrado para o céu noturno sul no horário programado para conduzir os Magos a Belém e apontar a localização de onde o menino Jesus estava…. A configuração de um cometa de cauda no horizonte ocidental é a única qualificada para ser percebida como “ficando parada acima” de uma residência específica. (págs. 134, 136)

Nicholl defende que a Estrela de Belém é o aparecimento de um cometa de longo período entrando no sistema solar interno em uma órbita retrógrada, estreitamente inclinada em relação à eclíptica (o plano da órbita da Terra em torno do Sol). Um cometa de longo período normalmente teria uma reserva maior de material volátil e poderia, portanto, desenvolver um brilho muito maior à medida que aquece ao se aproximar do Sol.

Ele aperfeiçoa ainda mais o significado que seria atribuído a um visitante cometário inesperado, conectando seu aparecimento a certas passagens bíblicas proféticas, como as encontradas na profecia de Balaão no Antigo Testamento:

Vê-lo-ei, mas não agora; contemplá-lo-ei, mas não de perto; uma estrela procederá de Jacó, e um cetro subirá de Israel,
— NÚMEROS 24:17, ARC

Estudiosos antigos e modernos geralmente aceitam que Balaão estava falando de “cetro [3] de cometa de cauda longa”.

Apreciando o Impacto Dramático

Para elucidar o impacto dramático que a ascensão heliacal de um grande cometa deve ter tido sobre os Magos para lançá-los numa viagem de 880 quilômetros e cinco semanas até Jerusalém, levando presentes para um Rei recém-nascido, Nicholl inspira-se no drama celestial descrito por João em Apocalipse 12:1-5. Nesta passagem, “a narrativa do nascimento de Jesus é contada em termos claramente celestiais”. Nicholl sugere que João está “relembrando conscientemente a maravilha celestial que assistiu ao nascimento de Jesus”. (pág. 154)

Uma descrição completa desta narrativa celestial nos levaria além do escopo deste artigo, então deixarei isso como uma provocação e uma motivação para ler o relato completo no livro de Nicholl. Endossos a The Great Christ Comet (O Grande Cometa de Cristo) atestam seu tratamento magistral. O ilustre professor de filosofia J P Moreland o chama de “um livro impressionante”. E o matemático da Universidade de Oxford, John Lennox, considera-o “um livro notável, de tirar o fôlego no âmbito da sua erudição”.

Minha própria leitura deste livro encantador me deixa maravilhado com o design do cosmos, que inclui a orquestração primorosa do ajuste fino das órbitas planetárias e os leves empurrões gravitacionais em uma massa congelada de material cometário da nuvem de Oort. Parece-me que essa orquestração enviou um cometa numa trajetória orbital precisa, percorrendo o interior do sistema solar, a fim de retratar dramaticamente, em tempo real, eventos há muito previstos.


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Notas de Fim da Tradução
  1. Ou nascer helíaco
  2. Na página Movimentos Orbitais da UFMG é possível saber mais a respeito de periélio e afélio, com ilustração por meio de uma animação GIF.
  3. Pela pouca informação que pude achar na internet, em inglês, cetro neste contexto parece ter o mesmo significado de cauda, rastro.



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o que exatamente é/era/foi a Estrela de Natal? - mistério de Natal - símbolos do Natal


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