Explorando a extensão do Dilúvio - parte 3


O Dilúvio Rumo ao Fim - Joshua Shaw, 1813 (Metropolitan Museum of Art - www.metmuseum.org)
O Dilúvio Rumo ao Fim - Joshua Shaw, 1813
(Metropolitan Museum of Art - recorte da imagem original)


Observação: Onde não mencionado, as citações e referências bíblicas são da Almeida Revista e Corrigida 2009 (ARC).

Leia a parte 1 :: parte 2

por Hugh Ross
1º de setembro de 2009

Qual foi o propósito por trás do ato de julgamento de Deus? A resposta ajuda a determinar a extensão do Dilúvio de Gênesis.

Os tratos do Senhor com Abraão durante a destruição de Sodoma mostram os limites que Ele estabelece ao lidar com a reprovação. [1] Deus prometeu a Abrão que se pelo menos dez pessoas justas pudessem ser encontradas ali, Ele reteria Seu julgamento. Acontece que Deus removeu de Sodoma a única pessoa resgatável e ofereceu abrigo à sua família antes de derramar Sua justa ira (Gênesis 18:22-33). Ao mesmo tempo, Deus permitiu que os amorreus próximos sobrevivessem, por mais perversos que fossem, “porque o pecado dos amorreus ainda não havia atingido sua medida total” (Gênesis 15:16).

No Novo Testamento, a descrição que o apóstolo Paulo faz dos réprobos evoca imagens de um câncer moral. “Embora conheçam a sentença de Deus, de que os que praticam tais coisas são passíveis de morte, eles não somente as fazem, mas também aprovam os que as praticam” (Romanos 1:32 NAA).

Assim como um cirurgião remove um tumor maligno para salvar a vida de uma pessoa, da mesma forma Deus age decisiva e precisamente para remover uma comunidade que se tornou total e irreparavelmente maligna para salvar o “corpo” maior da morte espiritual. Levando a analogia adiante, a natureza e o grau de degradação moral que o Cirurgião divino vê (como só Ele pode ver) em uma determinada comunidade determina Suas ações, especificamente o quanto do “tecido” social deve ser cortado e se terapias adicionais serão necessárias logo após a cirurgia.

A impureza da vida réproba parece ganhar um ponto de apoio e depois se espalhar em uma ordem perceptível:

  1. em todo o ser da pessoa pecadora (Romanos 7:8-11)
  2. então para descendência (Êxodo 20:5) e outros na comunidade
  3. então para os animais anímicos em contato com eles (Josué 6:21)
  4. então para bens materiais (Números 16:23-33)
  5. então para a terra que habitam (Levítico 18:24-28)

Desta forma, quando Deus realizar uma cirurgia, o procedimento será definido pela extensão do dano causado pela reprovação que Ele vê. Ao contrário de um cirurgião humano, Deus não precisa de margem de segurança. Ele trabalha com perfeita precisão para cortar a malignidade, deixando no lugar o tecido saudável ou reparável.

Essa malignidade era evidente na época de Noé. Gênesis 6:5 registra que para cada pessoa, exceto Noé e sua família, “toda imaginação dos pensamentos de seu coração era só má continuamente”. Gênesis 6:12 (A21) acrescenta: “pois a humanidade toda havia corrompido a sua conduta sobre a terra” e estavam “cheias de violência” (Gênesis 6:13). Portanto, Deus decidiu resgatar Noé, sua família e seus animais anímicos da reprovação mortal ao seu redor – o povo e sua prole, seus animais anímicos e seus bens materiais – e purificar a terra em que habitavam.

De acordo com essa perspectiva teológica, a extensão geográfica do Dilúvio de Noé pode ser determinada pela extensão geográfica da comunidade humana e dos animais anímicos associados a ela. A base para interpretar o Dilúvio de Noé como um evento de proporções geográficas menores do que globais é que a civilização humana naquela época carecia de motivação e meios (econômicos, técnicos e outros) para colonizar regiões distantes do planeta. Evidências arqueológicas indicam que a ocupação humana ainda não havia se espalhado além da área dentro e ao redor da junção de três continentes: África, Ásia e Europa. [2] Marcadores parasitários e de DNA indicam a posterior e rápida disseminação da humanidade daquela única região para todas as massas de terra da Terra. [3]

Gênesis 11:1-9 nos diz que, mesmo após o terrível dilúvio, as pessoas permaneceram obstinadamente resolutas em desobedecer ao mandamento de Deus de “multiplicarem-se, encherem a terra e a sujeitarem” (Gênesis 1:28). Em vez disso, eles começaram a “edifiquemos nós uma cidade e uma torre cujo cume toque nos céus e façamo-nos um nome, para que não sejamos espalhados sobre a face de toda a terra” (Gênesis 11:4).

Do ponto de vista teológico, não havia razão para Deus inundar todo o planeta Terra. E os animais que Ele trouxe a Noé para embarcar na Arca seriam pares (vários pares, em alguns casos) de criaturas nativas da região (mas ainda não contaminadas) e vitais para o rápido restabelecimento do ecossistema e da civilização. Tal interpretação é fiel ao texto e fiel ao caráter revelado de nosso Criador e Salvador.

Notas de fim

  1. Neste artigo, emprego “reprovação” como sinônimo de “depravação”, e não em seu outro sentido teológico, como o oposto de “eleição”.
  2. Fazale Rana com Hugh Ross, Who was Adam? (Pasadena, CA: Reasons To Believe, 2005): 123-37. (Veja em RTB ou Amazon)
  3. Ibid.


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visão do criacionismo (progressivo) da Terra velha sobre o Grande Dilúvio - interpretação bíblica - grande inundação universal, mundial nos tempos do patriarca Noé - teologia


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