Explorando a extensão do Dilúvio - parte 2


O Começo do Dilúvio - Crispijn de Passe, 1612 (Metropolitan Museum of Art - www.metmuseum.org)
O Começo do Dilúvio - Crispijn de Passe, 1612
(Metropolitan Museum of Art - recorte da imagem original)


Observação: Onde não mencionado, as citações e referências bíblicas são da Almeida Revista e Corrigida 2009 (ARC).

Leia a parte 1 :: parte 3

por Hugh Ross
1º de abril de 2009

A edição anterior de New Reasons to Believe (leia a parte 1) abordou a extensão do Dilúvio de Gênesis conforme indicado por referências a todo o “mundo”. Tanto em seu contexto linguístico quanto histórico, o mundo, nas passagens do Gênesis, não se refere ao planeta inteiro, mas ao “mundo” das pessoas. Assim, o Dilúvio poderia ter sido mundial sem ser global.

Muitas outras passagens bíblicas, no entanto, fora do texto de Gênesis lançam uma luz ainda mais clara sobre a extensão geográfica do Dilúvio. A mais explícita dessas passagens é o Salmo 104, uma bela recapitulação descritiva dos principais milagres que Deus realizou durante os seis dias da criação de Gênesis 1.

No Salmo 104:6, o escritor descreve a aparência da Terra antes da formação de qualquer ilha ou continente (dias 1 e 2 da criação). O Salmo 104:7-8 relata a transformação de Deus da crosta terrestre (no dia 3 da criação) de um mundo aquático para uma superfície com oceanos e massas de terra permanentemente estabelecidas. No versículo 9, o salmista declara explicitamente que neste processo de formação de continentes, Deus “Limite lhes traçaste [as águas], que não ultrapassarão, para que não tornem mais a cobrir a terra”. Dado que o Dilúvio de Gênesis ocorreu algum tempo depois dos dias da criação, esta passagem indicaria que o Dilúvio não poderia ter sido geograficamente global em extensão.


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O livro de Jó, nos capítulos 38-39, também descreve os eventos dos dias da criação de Gênesis. Com referência ao terceiro dia da criação, Deus pergunta, retoricamente (Jó 38:8a, 10-11 NAA: “Ou quem encerrou o mar com portões... quando eu lhe tracei limites, e lhe pus ferrolhos e portas, e disse: ‘Até aqui você pode chegar, mas deste ponto não passará. Aqui se quebrará o orgulho das suas ondas’?” Mais uma vez, a passagem implica que, ao formar os continentes, Deus estabeleceu limites permanentes para os oceanos, limites que eles nunca mais poderiam cruzar.

Vários outros textos parecem enfatizar o ponto estabelecido no Salmo 104 e Jó 38. Dois deles são o Salmo 33:6-11 e Provérbios 8:25-29. Além disso, 2 Pedro 2:5 nos informa que Deus trouxe o Dilúvio sobre “o mundo dos ímpios”. Se a humanidade ainda não tivesse migrado para todos os continentes da Terra, incluindo a Antártida, a Groenlândia, a Austrália e as Américas do Norte, [Central] e do Sul, não haveria razão aparente para a devastação de Deus se estender tão longe. Um ponto similar é expresso em 2 Pedro 3:6 (NAA): “Com base nesta palavra também o mundo daquele tempo foi destruído, afogado em água.” Pedro parece distinguir o “mundo” de Noé do seu próprio, o mundo romano.

Mesmo dentro do próprio relato do Dilúvio de Gênesis (Gênesis 6-9), vemos indicações de que o Dilúvio foi um pouco menos do que global em extensão. Em Gênesis 8, por exemplo, enquanto Noé observa o recuo das águas, o versículo 5 diz que ele podia ver os cumes dos montes distantes a partir de sua perspectiva no topo da Arca. Então ele soltou uma pomba: “A pomba, porém, não achou repouso para a planta de seu pé e voltou a ele para a Arca; porque as águas estavam sobre a face de toda a terra” (Gênesis 8:9). Aparentemente, a pomba voou abaixo da altitude do ponto de vista de Noé. Mas as palavras hebraicas traduzidas como “por toda a face da terra” neste versículo são as mesmas usadas em Gênesis 7:19, o texto mais frequentemente citado como prova de que o Dilúvio foi global. Frases como “toda a face da terra”, “debaixo do céu” e “toda a terra” podem, portanto, referir-se a uma área menor que a superfície total do planeta, podem falar, digamos, de horizonte a horizonte (mais ou menos) ou a área habitada por pessoas, sobre a qual o texto incide/foca.

O dilúvio de Gênesis pode muito bem ter se estendido além da Mesopotâmia. A maioria dos nomes de lugares registrados em Gênesis 2-8 está associada a locais na Mesopotâmia, mas alguns não. As notáveis exceções são os rios Pisom e Giom, que fluíam da parte sul da Península Arábica. Parece possível que o dilúvio de Gênesis tenha inundado não apenas toda a Mesopotâmia, mas também toda a região do Golfo Pérsico e grande parte do sul da Arábia. É intrigante notar que a região do Golfo Pérsico era terra seca, de acordo com os geólogos, cerca de 40.000 a 80.000 anos atrás, uma era que coincide aproximadamente com a época de Noé (com base na calibração apropriada das genealogias de Gênesis 5 e Gênesis 11).*

Como acontece com qualquer questão ou controvérsia bíblica, a abordagem mais útil é integrar todas as passagens bíblicas que abordam o assunto. Qualquer estudo do Dilúvio, portanto, também deve abranger o material bíblico sobre o julgamento de Deus contra o pecado. Em outras palavras, por que o Dilúvio? Isso é assunto para outro artigo (a parte 3).

*Veja More than a Theory (Grand Rapids: Baker, 2009), 189-90. (Veja em RTB ou Amazon)





Etiquetas:
visão do criacionismo (progressivo) da Terra velha sobre o Grande Dilúvio - interpretação bíblica - grande inundação universal, mundial nos tempos do patriarca Noé - teologia


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