A descoberta de alienígenas refutaria o cristianismo?


Disco voador no céu noturno (foto de CoolCatGameStudio em www.pixabay.com)
Foto de CoolCatGameStudio em Pixabay


por Jeff Zweerink
16 de setembro de 2016

Segundo a narrativa popular, a afirmação de Copérnico de que a Terra orbitava o Sol deu início a um processo implacável de descoberta científica que serviu para afastar qualquer pensamento de que a humanidade ocupava um lugar especial no universo. A Terra não era o centro do sistema solar, o sol não era o centro da galáxia e a Via Láctea não era o centro do universo. Muitos levam essa ideia ainda mais longe para afirmar que a Terra, incluindo a vida que a habita, é completamente medíocre em todos os sentidos. A descoberta de qualquer tipo de vida – especialmente vida inteligente – além dos confins da Terra falsificaria para sempre a noção de que a humanidade tem qualquer pretensão de ser especial.

Associado a essa linha de raciocínio, muitos acreditam que a descoberta de vida extraterrestre (ETs) demonstraria claramente que muitas das religiões do mundo, principalmente o cristianismo, não podem ser verdadeiras. Afinal, a Bíblia não menciona nada sobre a vida além da Terra! Então, a descoberta de ETs refutaria o Cristianismo, certo? É possível, mas não provável.

Como os ETs afetariam o cristianismo?

O tipo de ET encontrado influencia na resposta. Poucos teólogos, se é que algum, teriam qualquer preocupação em encontrar vida microbiana em um exoplaneta distante. De uma perspectiva teológica, a Bíblia não faz afirmações explícitas sobre como Deus originou a vida na Terra. No entanto, Gênesis 1:2 pode implicar que Deus criou a vida no início da história da Terra e depois a protegeu durante uma época em que as condições do planeta eram bastante hostis para qualquer coisa viva. A descoberta do ET microbiano levantaria questões sobre a origem da vida e se ela requer algo além da operação normal das leis físicas que governam nosso universo. Pode ser que Deus tenha criado um universo onde a vida surge por meio de processos naturalísticos, mas pode-se fazer um forte argumento baseado em nossa melhor compreensão científica de que a origem da vida e o desenvolvimento das condições propícias à vida na Terra requerem intervenção divina.

O ET microbiano representa a descoberta mais provável, mas a descoberta teologicamente mais interessante seria o ET inteligente (como a humanidade, que é “feita à imagem de Deus”). A Bíblia é, em grande parte, silenciosa sobre a questão de ETs inteligentes (pelo menos do tipo físico). Então a posição dominante no pensamento cristão histórico é que a humanidade representa a única vida física inteligente no universo. Assim como as pessoas especularam sobre a existência de ETs inteligentes por séculos, os teólogos também contemplaram como tal descoberta interagiria com o pensamento cristão histórico. A seguir estão algumas das propostas oferecidas, não seguindo uma ordem particular. Todas essas opções, exceto a última, assumem que Deus criou vida inteligente em outros mundos e essas criaturas escolheram se rebelar contra Deus como a humanidade fez.

6 teorias teológicas sobre a vida alienígena

Teoria 1. A encarnação, morte e ressurreição de Jesus aqui na Terra foram acontecimentos singularmente importantes que resultaram na redenção de todos os ETs inteligentes. Talvez a humanidade se espalhe pelo universo, levando o evangelho a todas essas criaturas. Ou talvez Deus se revele em cada um desses planetas de uma forma que declare o que Jesus realizou na Terra. Esta opção apresenta pelo menos uma dificuldade. A Bíblia descreve Jesus como o segundo Adão, o que significa que ambos estão relacionados fisicamente e na natureza. Qualquer ET inteligente neste cenário não tem relação física (e talvez nem mesmo na natureza) com Jesus.

Teoria 2. Jesus encarna em cada planeta onde as criaturas se rebelam, assumindo a natureza dos seres criados por Deus naquele planeta. Ao mesmo tempo em que Deus criou a humanidade à sua imagem, talvez suas criações em outros planetas tenham uma natureza que reflita a imagem de Deus de maneiras diferentes. Dada a descrição da união hipostática oferecida por Tomás de Aquino, a adição de outras naturezas além da humana de Jesus parece plausível.

Teoria 3. A natureza da rebelião de qualquer ET inteligente resulta em Deus ter outro meio de redenção para eles. Dado que Deus revelou o plano de redenção apenas para a humanidade, quaisquer propostas falando de como se parecem esses outros caminhos de redenção são pura especulação.

Teoria 4. Nenhuma redenção é possível*. Essa opção parece a mais ofensiva para a sensibilidade humana, especialmente pela dificuldade de conciliá-la com a bondade, a onisciência e o poder de Deus. Alguns objetariam que um Deus onisciente, todo-bom e todo-poderoso não pode criar seres sujeitos ao inferno eterno. De fato, muitos levantam a mesma objeção no contexto da humanidade. No entanto, alguns pontos merecem menção. Primeiro, nossas mentes finitas não podem compreender tudo o que Deus sabe. Em segundo lugar, o verdadeiro livre-arbítrio tem consequências. Embora Deus seja bom em sua natureza, ele também é justo. Embora essa opção pareça ofensiva, ela tem precedentes na Bíblia. Os anjos tinham a escolha de servir a Deus ou a Lúcifer. Nenhuma oferta de redenção existe para aqueles anjos que seguiram Lúcifer.

Teoria 5. Deus criou a vida inteligente com livre arbítrio, mas essas criaturas escolheram não seguir a rebelião da humanidade. Na falta de qualquer violação do mandamento de Deus, essas criaturas não precisam de redenção. Eles já desfrutam de um relacionamento adequado com Deus. C. S. Lewis explora essa ideia em sua Trilogia Espacial.

Teoria 6. Uma possibilidade final e muito real: Deus criou apenas uma criatura inteligente em todo o universo. Se assim for, então a história da redenção da vida na Terra é a história do universo, e esse debate se torna discutível.

O terreno comum da ciência e da teologia

Uma objeção comum que os cientistas levantam contra o cristianismo e a religião em geral é a falta de testabilidade. Dito de outra forma, eles acusam o cristianismo de ser tão flexível e vago que nada jamais poderia falsificá-lo. Ironicamente, muitas pessoas (cristãos e não-cristãos) pensam que encontrar ETs inteligentes falsificaria o cristianismo. A discussão acima identifica uma série de maneiras pelas quais a teologia cristã histórica incorporaria a descoberta de ETs inteligentes. Mas o grande número de opções não valida justamente a acusação de flexibilidade e falta de clareza exageradas?

Na verdade, os cientistas consideram essa propriedade uma virtude. Considere um tópico investigado extensivamente pela comunidade científica nos últimos cem anos: qual é a interpretação adequada da mecânica quântica? Pode-se pensar que esta é uma questão resolvida, considerando que a mecânica quântica é um dos dois modelos científicos mais bem-sucedidos já desenvolvidos (o outro é a relatividade geral). Uma rápida leitura da literatura revela que existem muitas interpretações diferentes para a natureza subjacente da mecânica quântica. A amplitude de opções neste tópico representa os esforços notáveis de muitos cientistas para abordar uma questão difícil. Desenvolver uma gama de interpretações ajuda os cientistas a conhecer os experimentos que irão distinguir qual interpretação representa melhor a realidade. Da mesma forma, uma série de modelos para a redenção de ETs ajudam os teólogos a discernir os detalhes subjacentes da história redentora de Deus.

O desenvolvimento da teoria da relatividade por Einstein não provou que Newton estava errado. A dinâmica newtoniana ainda descreve adequadamente o movimento da grande maioria dos objetos através do espaço. A relatividade de Einstein apenas fornece uma imagem mais completa. Assumindo que encontramos ETs inteligentes (e isso é um GRANDE se), a descoberta não invalidaria a compreensão cristã histórica da redenção. Como a relatividade de Einstein, ela nos daria um quadro mais completo. A vida, morte e ressurreição de Jesus ainda fornecem o único meio de redenção para os humanos caídos, mas talvez a narrativa da redenção de Deus englobe mais do que apenas a humanidade.

A busca por ETs inteligentes levanta grandes questões científicas e teológicas. E as descobertas feitas nessa busca nos ajudarão a entender melhor o universo e como nos relacionamos com o Deus que tudo criou.


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* Essa teoria demonstra seguir a linha calvinista, visão teológica em que a salvação dos seres humanos, por exemplo, se dá por escolha divina, e não por escolha de cada pessoa. Destarte, na Teoria 4, Deus teria escolhido não salvar mais ninguém além dos seres humanos.




Etiquetas:
cristianismo, Bíblia e a vida (alienígena) inteligente fora da Terra - destruiria, anularia o cristianismo


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