A hipótese de um cosmos multiverso

 
Texto de Everton F. Alves originalmente publicado no grupo Design Inteligente no Facebook.
 
A HIPÓTESE DE UM COSMOS MULTIVERSO: a escapatória da vez diante da desastrosa tentativa de explicar o mundo RNA
 
 
Vista colorida do universo a partir do Hubble [Hubble ESA no Flickr]
 
 
Eugene Koonin, um biólogo molecular e investigador sênior da National Center for Biotechnology Information (NCBI) admitiu que a origem química natural da vida é altamente improvável, se houver apenas um universo finito [1]. Para melhor explicar isso, o autor fornece um ‘modelo de brinquedo’ acerca do limite superior da probabilidade do surgimento de um sistema de replicação e tradução acoplado em uma O-região (‘O-região’ significa um universo observável, tal como o que vivemos). O modelo em si não tem a intenção de ser realista – é por isso que ele o chama de um modelo de brinquedo –, mas faz algumas suposições sobre a disponibilidade de RNA na Terra primordial.
 
O autor escreve: “O mundo RNA enfrenta seus próprios problemas difíceis assim como a replicação do RNA catalisado por ribozima continua a ser uma hipótese e as pressões seletivas por trás da origem da tradução permanecem misteriosas” [1: p.1]. Para o autor, até mesmo numa forma de vida muito básica, um sistema de replicação e tradução acoplado exigiria, no mínimo, a formação de dois rRNAs com um tamanho total de pelo menos 1000 nucleotídeos, 10 adaptadores primitivos de cerca de 30 nucleotídeos cada um, e um RNA que codifica uma replicase com cerca de 500 nucleotídeos. Em outras palavras, mesmo neste modelo de brinquedo que assume uma taxa deliberadamente inflada da produção de RNA, a probabilidade de que uma replicação e tradução acoplada surgissem por acaso em uma única O-região é P < 10-1018.
 
Para fugir das implicações teístas de seus cálculos, Dr. Koonin postula um multiverso – ou seja, um universo infinito como uma ‘solução’ alternativa que é repleta de falhas. Para o autor, nesse modelo cosmológico proposto haveria chances infinitas para toda a complexidade da vida surgir de uma só forma. A premissa de Koonin é que, “em contraste com os modelos cosmológicos tradicionais de um único universo finito, essa visão de mundo, prevê a origem de um número infinito de sistemas complexos por acaso, mesmo quando a probabilidade de complexidade emergente em qualquer região do multiverso é extremamente baixa” [1: p.1].
 
Mais recentemente, o físico britânico Stephen Hawking usou a hipótese dos multiversos para dar esperança aos fãs da banda inglesa One Direction [2]. Segundo ele, em algum universo paralelo é possível que ela ainda esteja em sua formação original. Parece brincadeira, mas diante de uma pergunta inusitada e, possivelmente, irônica, sobre o efeito cosmológico causado pela saída do cantor Zayn Malik da banda, Hawking aproveitou a oportunidade e fez um apelo emocional [notem o dogmatismo] aos que ficaram com o coração partido que prestassem atenção aos estudos de física teórica, pois "um dia haverá provas concretas da existência de vários universos”, afirmou ele.
 
O astrofísico Laerte Sodré Junior, professor do Departamento de Astronomia do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP, adianta que qualquer hipótese científica de multiverso não passa de mera especulação, considerando as teorias e a tecnologia que se tem atualmente [3]. Ele acrescenta: “Esse ano estamos comemorando Galileu, que foi um dos precursores do método científico, mas o problema da hipótese do multiverso é justamente o fato de ela não poder ser comprovada por este método”. Como pode ser visto, a hipótese dos multiversos não dispõe de evidências, e o meio para acreditar nela é somente pela fé [aí entra o dogmatismo naturalista]. Fato é que, pesquisa científica publicada na revista Nature já reconheceu que a hipótese do multiverso é infalsificável e ‘não é ciência’ [4].
 
REFERÊNCIAS:
 
[1] Koonin EV. The cosmological model of eternal inflation and the transition from chance to biological evolution in the history of life. Biol Direct. 2007; 2:15. Disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1892545
 
[2] Stephen Hawking consola fãs do One Direction com a teoria dos multiversos. [abr. 2015]. Celebridades. Folha de São Paulo, 2015. Disponível em: http://f5.folha.uol.com.br/celebridades/2015/04/1621636-stephen-hawking-consola-fas-de-one-direction-com-teoria-dos-multiversos.shtml
 
[3] Entrevista concedida por Laerte Sodré Junior. O que um multiverso nos diria sobre Deus? Blog Tubo de Ensaio: ciência e religião. Jornal Gazeta do Povo, 2009. Disponível em: http://www.gazetadopovo.com.br/blogs/tubo-de-ensaio/o-que-um-multiverso-nos-diria-sobre-deus
 
[4] Brumfiel G. Our Universe: Outrageous fortune. Nature. 2006; 439 (7072):10-2. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/16397473
 
 
Etiquetas:
Astrofísica - complexidade do código genético/RNA - problemas do mundo RNA
 
 
 
 

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