Design Inteligente não é Criacionismo

 
[atualizado em 09/set/2014]
 
A seguir a tradução feita por mim do artigo de mesmo título que o do post, encontrado neste link do site do Discovery Institute. Os links para significados de palavras foram inseridos por mim.
 
 
DESIGN INTELIGENTE NÃO É CRIACIONISMO
Por: Stephen C Meyer
The Daily Telegraph (Londres)
09 de fevereiro de 2006

Este artigo foi originalmente publicado no Daily Telegraph (Reino Unido) em 29 de janeiro.

Em 2004, o ilustre filósofo Antony Flew da Universidade de Reading foi notícia em todo o mundo quando repudiou uma longa vida de compromisso com o ateísmo e afirmou a realidade de algum tipo de criador. Flew citou evidência ao design inteligente no DNA e os argumentos dos “teóricos americanos do design [inteligente]” como importantes razões para esta mudança.

Desde então, leitores britânicos tinham aprendido sobre a teoria do design inteligente (DI) principalmente a partir de relatos da mídia sobre as batalhas na corte dos Estados Unidos tratando da legalidade de seu ensino aos estudantes. De acordo com a maioria dos relatos, o DI é uma alternativa “baseada em fé” à evolução, fundamentada unicamente em religião.

Mas esta afirmação é precisa? Como um dos arquitetos da teoria, eu sei que não.

Ao contrário do que dizem os relatos da mídia, o DI não é uma ideia baseada em religião, mas uma teoria científica baseada em evidências sobre as origens da vida. De acordo com os biólogos darwinistas, tal como Richard Dawkins da Universidade de Oxford, sistemas vivos “dão a aparência de terem sido projetados com propósito”.

Porém, para darwinistas modernos, tal aparência de projeto (design) é ilusória porque o processo puramente não dirigido da seleção natural agindo sobre mutações aleatórias é completamente suficiente para produzir as intricadas estruturas “como-que-projetadas” encontradas nos organismos vivos.

Em contraste, o DI sustenta que há aspectos reveladores dos sistemas vivos e do universo que são melhor explicados por uma inteligência projetista. A teoria não desafia a ideia da evolução definida como mudança com o passar do tempo, ou mesmo ancestralidade comum, mas questiona a ideia de Darwin de que a causa da mudança biológica é completamente cega e não dirigida.

Quais sinais de inteligência os defensores do DI veem?

Nos anos recentes, biólogos descobriram um mundo primoroso de nanotecnologia dentro das células vivas – circuitos complexos, grampos deslizantes, turbinas de geração de energia e máquinas em miniatura. Por exemplo, células bacteriológicas são propelidas por engenhos rotatórios chamados de motores flagelares, que giram a 100.000 rpm. Estes motores parecem ter sido projetados por engenheiros, com muitas partes mecânicas distintas (feitas de proteínas), incluindo rotores, estatores, juntas tóricas (juntas em forma de anel), buchas, juntas universais e juntas homocinéticas.

O bioquímico Michael Behe aponta que o motor flagelar depende da função coordenada de 30 partes (proteínas). Remova um destas partes, e o motor rotatório não funcionará. O motor é, nas palavras de Behe, “irredutivelmente complexo”.

Isso cria um problema para o mecanismo darwiniano. A seleção natural preserva ou “seleciona” vantagens funcionais à medida que surgem por mutação aleatória. O motor flagelar não funciona a menos que todas as suas 30 partes estejam presentes. Desta maneira, a seleção natural pode “selecionar” o motor uma vez que ele surja funcionando por completo, mas não pode produzir o motor de um modo darwiniano passo a passo.

A seleção natural apropriadamente constrói sistemas complexos a partir de estruturas mais simples preservando uma série de intermediários, cada qual devendo desempenhar alguma função. No caso do motor flagelar, estruturas intermediárias não desempenham função para que a seleção as preserve. Isto deixa a origem do motor flagelar inexplicada pelo mecanismo (seleção natural) que Darwin propôs para substituir a hipótese de projeto.

Há uma explicação melhor? Baseados em nossa uniforme experiência, sabemos de apenas um tipo de causa que produz sistemas irredutivelmente complexos: inteligência. Sempre que encontramos sistemas complexos – sejam circuitos integrados ou motores de combustão interna – e sabemos como surgiram, invariavelmente uma inteligência projetista desempenhou algum papel ali.

Considere um argumento ainda mais fundamental para o design (projeto). Em 1953, quando Watson e Crick elucidaram a estrutura da molécula de DNA, eles fizeram uma descoberta surpreendente. Cadeias de substâncias químicas precisamente sequenciadas chamadas nucleotídeos, no DNA, armazenam e transmitem as instruções de montagem – a informação – num código digital de quatro caracteres para a construção de moléculas de proteínas das quais a célula necessita para sobreviver. Crick então desenvolveu sua “hipótese da sequência”, na qual as bases químicas no DNA funcionam como letras numa linguagem escrita de símbolos em um código de computador. Como Dawkins notou, “o código de máquina dos genes é sinistramente semelhante ao dos computadores”.

Os aspectos informacionais da célula ao menos aparentam ter sido projetados. No entanto, nenhuma teoria de evolução química não dirigida explicou a origem da informação digital necessária à construção da primeira célula. Por quê? Há simplesmente muita informação na célula a ser explicada somente por eventualidade.

A informação no DNA (e no RNA) também tem desafiado a explicação através de forças de necessidade química. Em outras palavras, seria como dizer que um título de um texto surgiu como resultado da atração química entre a tinta e o papel. Claramente, algo mais participa desse processo.

O DNA funciona como um programa de computador. Sabemos, a partir da experiência, que programas vêm de programadores. Sabemos que informação – seja, digamos, hieróglifos ou sinais de rádio – sempre surge de uma fonte inteligente. Como o pioneiro teórico da informação Henry Quastler observou: “informação habitualmente surge de atividade consciente”. Desta forma, a descoberta de informação digital no DNA provê fortes motivos para inferir que uma inteligência agiu como causa em sua origem.

Deste modo, o DI não é baseado em religião, mas em descobertas científicas e em nossa experiência de causa e efeito, a base de todo raciocínio científico sobre o passado. Diferentemente do criacionismo, o DI é uma inferência a partir da informação biológica.

Todavia, o DI pode prover suporte para crenças teístas. Isto, porém, não é motivo para dispensá-lo. Há sim aqueles que confundem a evidência para a teoria com suas possíveis implicações. Muitos astrofísicos inicialmente rejeitaram a Teoria do Big Bang porque ela parecia apontar para a necessidade de uma causa transcendente para a matéria, espaço e tempo. A ciência, no entanto, acabou aceitando-a porque a evidência a suporta firmemente.

Hoje um preconceito semelhante confronta o DI. Entretanto, esta nova teoria deve ser também avaliada com base na evidência, não em preferências filosóficas. Como o professor Flew advertiu: “Devemos seguir a evidência, aonde quer que ela nos leve”.

Stephen C Meyer editou 'Darwinism, Design and Public Education' (Imprensa da Universidade do Estado de Michigan). Ele tem um PhD em filosofia da ciência pela Universidade de Cambridge e é um associado sênior do Discovery Institute em Seattle.

 
 
Etiquetas:
Complexidade irredutível - A caixa preta de Darwin - evolucionismo - projeto inteligente

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